escritor, dramaturgo, jornalista, artista visual, cartunista

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

pra início de conversa

Pra ser honesto - comigo e com todos - devo dizer que é com grande ceticismo e relutância que estou iniciando um blog literário, onde pretendo divulgar alguns textos de minha autoria, inéditos ou não. A verdade é que sempre fui um crítico da internet como substituta da tradicional publicação de um livro, em todos os aspectos que envolvem essa questão. A começar por não acreditar no tão propalado fim iminente do livro, como objeto. Não me vejo - nem a maioria das pessoas - a "folhear" páginas eletrônicas de um Guimarães Rosa, um Fernando Pessoa ou um Dostoiévski, num desktop, ou mesmo num display de mão qualquer, que venha a ser lançado em breve. Também não comungo do senso comum de que o blog é um espaço democrático universal, que faculta a todos o livre acesso à produção literária desse ou daquele autor. Além do ainda restrito acesso da maioria da população ao ambiente digital no Brasil e no mundo, essa dita universalização atende mais, a meu ver, à ambição e à vaidade pessoal de quem escreve - e não consegue ser aceito pelo sistema editorial - que a uma real demanda de potenciais leitores. Blogs, dessa forma, tornam-se vitrines onde autores que buscam reconhecimento se oferecem mais a editores e olheiros, que propriamente a leitores, na expectativa de que sejam "descobertos" e publicados em brochura, escudados em uma pretensa e relativa celebridade internética. Falo, claro está, genericamente: há exceções, como em toda regra. Mas, enfim, se esse é o jogo, decidi participar, a despeito de não prescindir de continuar encaminhando meus originais às editoras e aos concursos literários - prática que já me rendeu quase 20 títulos publicados, por cinco diferentes editoras e mais de trinta prêmios no Brasil e no exterior. Pessoalmente, terei ainda que superar um desafio extra: ser fiel ao meu blog, dedicando alguns minutos do meu dia para tentar mantê-lo atualizado. É que isso vai me tomar um precioso tempo, que normalmente dedico a escrever meus poemas, contos, livros para crianças e peças de teatro...

POEMA DE AMOR CONFESSO (DECLARAÇÃO PARA OS DEVIDOS FINS)

tira-gosto #1

"Então, aqui estou: nu
como quem é dado à luz

cego que tateia a treva

cigano que compra casa.

Então, aqui estou: todo
que se faz em partes

folha que o vento leva

cinza que envolve a brasa."


Fragmento do livro POEMA DE AMOR CONFESSO (DECLARAÇÃO PARA OS DEVIDOS FINS)
(Prêmio Elpídio Câmara de Poesia/2000, editado pela Fundação de Cultura Cidade do Recife/2001).
Edição esgotada. Disponível para novos editores.