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POEMA DE AMOR CONFESSO (DECLARAÇÃO PARA OS DEVIDOS FINS)
AGENDA
Minha agenda na Bienal do Livro/MG:
3ª feira, 18/05 - 14 horas: Encontro com autores e ilustradores no stand da Editora Dimensão.
Sábado, 22/05 - 15 horas: Sessão de autógrafos dos livros A presepada, É tudo lenda!... e O menino que varou a noite.
Sábado, 22/05 - 17 horas: Sessão de autógrafos no stand da Paulinas.
OUTUBRO/2010
Oficina Brincando com a Palavra, na Livraria Paulinas de Porto Alegre, e outras atividades a cargo da Câmara Riograndense do Livro.
Em breve, mais detalhes.
meus livros publicados:
- PARA ADULTOS:
- JÚLIO VARELLA - 50 ANOS FAZENDO ARTE (livro de memórias do produtor cultural mineiro Júlio Varella; 2009)
- PELA ESTRADA DE TIJOLOS AMARELOS (contos; Prêmio Estímulo às Artes/Fundação Clóvis Salgado/Suplemento Literário de Minas Gerais, 2005)
- POEMA DE AMOR CONFESSO - DECLARAÇÃO PARA OS DEVIDOS FINS (Prêmio Cidade do Recife/Poesia, 2000; Fund. de Cultura Cidade do Recife, 2001)
- O GUARDADOR DE TIJOLOS (Prêmio Formato de Literatura/Poesia, 1997; Ed. Formato/Autêntica, 1998)
- POEMA EM CARNE VIVA (Prêmio Aproc/CLESI, 1996)
- PARA CRIANÇAS E JOVENS:
- A PRESEPADA (teatro; Ed. Dimensão, 2009)
- É TUDO LENDA!... (Ed. Dimensão, 2007)
- ABRASASASPLIM! (Ed. Girafinha, 2007)
- NO PALCO, TODO MUNDO VIRA BICHO! (teatro - Planeta Jovem, 2007)
- A MENINA QUE INVENTOU O BRANCO-INVISÍVEL(Paulinas, 2006)
- ME ROMEU, YOU JULIETA (teatro - Planeta Jovem, 2006)
- QUANDO OS BICHOS FAZIAM CENA (teatro - Planeta Jovem, 2005)
- BADULAQUES E TRAQUITANAS - ALGUMA POESIA E OUTRAS BRINCADEIRAS COM PALAVRAS (Altamente Recomendável para Crianças e Jovens/FNLIJ, 2006; Paulinas, 2005)
- O QUE É QUE HOUVE? O QUE É QUE HÁ? (Prêmio Adolfo Aizem/UBE, 2002; Paulinas, 2005)
- NO FUNDO, NO FUNDO, NÃO TEM FUNDO (Concurso Nacional de Histórias Infantis/1993, Menção Honrosa; Prêmio Adolfo Aizem/UBE/Originalidade, 2001; Paulinas, 2004)
- TREM CHEGOU, TREM JÁ VAI (Altamente Recomendável para Crianças e Jovens/FNLIJ, 2004; Prêmio Adolfo Aizem/UBE, 2002; Paulinas, 2003)
- BRINCANDO COM A PALAVRA (Paulinas, 2003)
- O MENINO QUE ENGOLIU O QUATRO (Prêmio Mater Dei de Cultura/Lit. Infantil, 2000; Prêmio Adolfo Aizem/UBE, 2001; Paulinas, 2002)
- BEBÊ DANÇA, BEBÊ ROLA, BABY ROCK, BABY ROLL (tradução; Paulinas, 2002)
- GIRAFA NÃO SERVE PRA NADA (Prêmio João-de-Barro/Finalista, 1998; Paulinas, 2000)
- O MENINO QUE VAROU A NOITE E DEPOIS VIROU POETA (Concurso Nacional de Histórias Infantis/3º lugar; 1991; Ed. Dimensão, 1996)
- AVENTURA NO FUNDO DA GAVETA (Grande Prêmio Minas de Cultura/Lit. Infantil, 1989; Ed. Migulim, 1991)
links interessantes para consulta ou simples visitação:
Arquivo do blog
POEMA DE AMOR CONFESSO (DECLARAÇÃO PARA OS DEVIDOS FINS)
está escrito
TREM CHEGOU, TREM JÁ VAI (Ed. Paulinas, 2003)
Vejam o que andaram dizendo do TREM CHEGOU, TREM JÁ VAI - meu primeiro livro a receber o selo de Altamente Recomendável para Crianças e Jovens, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ):
“Um livro delicioso para se ler em voz alta.”
O Estado de São Paulo
“Apenas com ritmo e musicalidade, o autor cria uma divertida viagem, cheia de surpresas a bordo, com o som do trem.”
www.paralelos.org
“Um passeio de trem, muito bem acompanhado.”
Revista Nova Escola
“Aragão constrói uma poesia de rica intertextualidade (bem ao gosto dos estudiosos e letrados) e, ao mesmo tempo lúdica e rítmica (bem ao gosto das crianças).”
Diário da Tarde
“Em suas mãos (da ilustradora, Elma), o trem de ‘verdade’ vira brinquedo de criança, e o olhar do leitor se desloca entre paisagens do mundo e da imaginação.”
www.dobrasdaleitura.com
Para mais informações, visite o site da editora: http://www.paulinas.org.br/
É TUDO LENDA... (Ed. Dimensão, 2007)
vendendo o meu peixe #1
Tá na hora desse blog dizer a que veio: vou vender meu peixe. Quero sugerir que conheçam É TUDO LENDA..., (Ed. Dimensão, 2007), um dos meus livros mais recentes para o público infantil e juvenil. O livro é uma reunião de quinze lendas curtas absolutamente falsas - todas inventadas por mim - que procuram contar, de uma forma lúdica e divertida, a origem de algumas coisas, tangíveis ou não: a alegria, a chuva, a liberdade, o futebol, o medo, as montanhas, o lápis, o dinheiro, o tempo, a verdade, etc. Há uma lenda até para contar a origem das próprias lendas. Tudo maravilhosamente ilustrado pelo Flávio Fargas, só vendo... Leia abaixo um trecho da lenda O LÁPIS, extraído do livro:
"Houve um tempo em que as Canetas todas viviam sempre muito ocupadas, escrevendo até secarem.
E havia Canetas de todo tipo, que escreviam de tudo.
Umas, muito sérias e altamente profissionais, escreviam relatórios, atas, notas fiscais e balanços.
Outras, mais românticas, escreviam diários de meninas sonhadoras, cheios de segredos inconfessáveis.
Canetas também românticas - porém mais atiradas - escreviam bilhetes entre namorados que marcavam encontros secretos ou faziam juras de amor eterno.
Outras escreviam cartas, aproximando pessoas que viviam longe umas das outras.
Havia Canetas que davam conta de tudo, escrevendo notícias que depois seriam publicadas no jornal.
Cheias de pompa e nobreza, algumas Canetas eram especializadas em assinar leis, decretos, sentenças e documentos oficiais.
E gozavam de grande prestígio na comunidade as Canetas dos poetas e escritores, porque escreviam com enorme liberdade, até inventando palavras novas e muito bonitas.
Mas nem tudo era tranqüilo no maravilhoso mundo das Canetas.
É que elas viviam muito estressadas com a constante ameaça de um perigoso fantasma, sempre pairando sobre suas cabeças: o erro."
Para mais informações, visite o site da editora: http://www.editoradimensao.com.br/
"Houve um tempo em que as Canetas todas viviam sempre muito ocupadas, escrevendo até secarem.
E havia Canetas de todo tipo, que escreviam de tudo.
Umas, muito sérias e altamente profissionais, escreviam relatórios, atas, notas fiscais e balanços.
Outras, mais românticas, escreviam diários de meninas sonhadoras, cheios de segredos inconfessáveis.
Canetas também românticas - porém mais atiradas - escreviam bilhetes entre namorados que marcavam encontros secretos ou faziam juras de amor eterno.
Outras escreviam cartas, aproximando pessoas que viviam longe umas das outras.
Havia Canetas que davam conta de tudo, escrevendo notícias que depois seriam publicadas no jornal.
Cheias de pompa e nobreza, algumas Canetas eram especializadas em assinar leis, decretos, sentenças e documentos oficiais.
E gozavam de grande prestígio na comunidade as Canetas dos poetas e escritores, porque escreviam com enorme liberdade, até inventando palavras novas e muito bonitas.
Mas nem tudo era tranqüilo no maravilhoso mundo das Canetas.
É que elas viviam muito estressadas com a constante ameaça de um perigoso fantasma, sempre pairando sobre suas cabeças: o erro."
Para mais informações, visite o site da editora: http://www.editoradimensao.com.br/
ABRASASASPLIM! (Ed. Girafinha, 2007)
vendendo o meu peixe #2
Outro livro meu para crianças, lançado em fins do ano passado (ainda devo fazer o lançamento oficial em BH - aguardem) é ABRASASASPLIM! (Ed. Girafinha, 2007), uma moderna fábula sobre a liberdade, contada de um jeito bem peculiar. Uma criança muito cética ouve a história da menina Bia, que ganhou um curió que não queria saber de voar. O livro tem um belo projeto gráfico e delicadas ilustrações de Suppa. Veja um trecho:
"Foi por causa disso que Bia começou a perder seu encantamento: quando começou a perceber que não podia mudar tudo só com uma palavra mágica. Foi deixando de inventar personagens e histórias de aventuras pra brincar em dias de chuva.
Foi deixando de lado a sua palavra mágica, parou de usá-la e, com a falta de uso, já nem se lembrava mais como era: Abreamassaeploft!? Abreusaplec!? Abreacasacaepum!?
Abrasasasplim!
Isso!"
Mais informações no site da editora: www.girafinha.com.br
"Foi por causa disso que Bia começou a perder seu encantamento: quando começou a perceber que não podia mudar tudo só com uma palavra mágica. Foi deixando de inventar personagens e histórias de aventuras pra brincar em dias de chuva.
Foi deixando de lado a sua palavra mágica, parou de usá-la e, com a falta de uso, já nem se lembrava mais como era: Abreamassaeploft!? Abreusaplec!? Abreacasacaepum!?
Abrasasasplim!
Isso!"
Mais informações no site da editora: www.girafinha.com.br
QUANDO OS BICHOS FAZIAM CENA e NO PALCO, TODO MUNDO VIRA BICHO! (Planeta Jovem, 2007)
vendendo o meu peixe #3
Há algum tempo venho fazendo pequenas adaptações de fábulas de Esopo, para encenação por crianças em sala de aula. É um caminho que encontrei para atender a uma demanda específica: quase não há textos publicados de dramaturgia para crianças atuarem – o pouco que há é para elas assistirem, encenadas por atores de verdade. Também os professores se ressentem da falta de textos específicos para uso em sala de aula, já que os existentes requerem recursos de encenação (cenografia, iluminação, efeitos) raramente disponíveis nas escolas – públicas ou privadas.
Daí, nasceram dois livros meus, ambos publicados pela Planeta Jovem, ambos selecionados para o PNBE, do MEC, e agora lançados também em catálogo da editora. São eles: QUANDO OS BICHOS FAZIAM CENA e NO PALCO, TODO MUNDO VIRA BICHO!, ambos magnificamente ilustrados por Luciana Carvalho.
Cada volume reúne uma seleção de dez fábulas adaptadas para cenas curtas (de 3 a 5 minutos, no máximo) e bem-humoradas, em linguagem simples e acessível a qualquer criança. As cenas podem ser montadas isoladamente como exercício de teatro em sala de aula ou podem ser reunidas em um grande espetáculo dos alunos para o encerramento de período letivo.
Veja abaixo um trecho de uma das fábulas adaptadas:
“A TOUPEIRA AVARENTA
Personagens:
Toupeira
Tatu
Avestruz
Cenário: um campo
.....................................................................................................
Toupeira está cavando um buraco. É observada, de longe, por um Tatu.
TOUPEIRA
Meu tesouro, cadê você, meu tesouro?
TATU (à parte)
Ora, ora, ora...
TOUPEIRA (falando a uma barra de ouro que acaba de tirar do buraco)
Ah, aí está você: tudo o que tenho é esta bela barra de ouro.
TATU (à parte)
Ora, ora, ora...
TOUPEIRA
Sou a toupeira mais rica do mundo!
TATU (à parte)
Ora, ora, ora...
TOUPEIRA (enterrando novamente a barra de ouro)
Bem, já chega. Amanhã eu volto pra ver você de novo...
Toupeira fecha o buraco e sai, esgueirando-se para um lado e sem ver o Tatu, que se aproxima do buraco pelo outro.
TATU (esfregando as mãos)
Ora, ora... ouro!...”
Para mais informações, visite o site da editora: http://www.editoraplaneta.com.br/
Daí, nasceram dois livros meus, ambos publicados pela Planeta Jovem, ambos selecionados para o PNBE, do MEC, e agora lançados também em catálogo da editora. São eles: QUANDO OS BICHOS FAZIAM CENA e NO PALCO, TODO MUNDO VIRA BICHO!, ambos magnificamente ilustrados por Luciana Carvalho.
Cada volume reúne uma seleção de dez fábulas adaptadas para cenas curtas (de 3 a 5 minutos, no máximo) e bem-humoradas, em linguagem simples e acessível a qualquer criança. As cenas podem ser montadas isoladamente como exercício de teatro em sala de aula ou podem ser reunidas em um grande espetáculo dos alunos para o encerramento de período letivo.
Veja abaixo um trecho de uma das fábulas adaptadas:
“A TOUPEIRA AVARENTA
Personagens:
Toupeira
Tatu
Avestruz
Cenário: um campo
.....................................................................................................
Toupeira está cavando um buraco. É observada, de longe, por um Tatu.
TOUPEIRA
Meu tesouro, cadê você, meu tesouro?
TATU (à parte)
Ora, ora, ora...
TOUPEIRA (falando a uma barra de ouro que acaba de tirar do buraco)
Ah, aí está você: tudo o que tenho é esta bela barra de ouro.
TATU (à parte)
Ora, ora, ora...
TOUPEIRA
Sou a toupeira mais rica do mundo!
TATU (à parte)
Ora, ora, ora...
TOUPEIRA (enterrando novamente a barra de ouro)
Bem, já chega. Amanhã eu volto pra ver você de novo...
Toupeira fecha o buraco e sai, esgueirando-se para um lado e sem ver o Tatu, que se aproxima do buraco pelo outro.
TATU (esfregando as mãos)
Ora, ora... ouro!...”
Para mais informações, visite o site da editora: http://www.editoraplaneta.com.br/
O GUARDADOR DE TIJOLOS (Autêntica/AG Formato, 1998)
tira-gosto #2
"Quinta-feira, 8 - O cinema
Janela com horários.
Sala para o manuseio de coxas e seios.
Laboratório experimental de desintegração de pipocas
e alongamento de chicletes.
Cinzel de luz ilustrando histórias encaixotadas
de acidentes humanos.
La Bergman oferecendo seus irrecusáveis lábios
enquanto nuviosos dedos articulavam-se
por minhas capitanias esconsas e hereditárias:
no Art e em grande circuito."
Trecho do livro O GUARDADOR DE TIJOLOS
Prêmio Formato de Literatura/Poesia, 1997
Edição esgotada. Disponível para novos editores
Janela com horários.
Sala para o manuseio de coxas e seios.
Laboratório experimental de desintegração de pipocas
e alongamento de chicletes.
Cinzel de luz ilustrando histórias encaixotadas
de acidentes humanos.
La Bergman oferecendo seus irrecusáveis lábios
enquanto nuviosos dedos articulavam-se
por minhas capitanias esconsas e hereditárias:
no Art e em grande circuito."
Trecho do livro O GUARDADOR DE TIJOLOS
Prêmio Formato de Literatura/Poesia, 1997
Edição esgotada. Disponível para novos editores
A MENINA QUE INVENTOU O BRANCO-INVISÍVEL (Ed. Paulinas, 2006)
vendendo o meu peixe #4
Nos dias de hoje, especialmente nas médias e grandes cidades, nossos filhos vivem confinados em apartamentos – um espaço sempre pequeno demais para comportar suas brincadeiras e imaginação.
Nesse mundinho restrito, muitas crianças são privadas de ter, entre outras coisas, um animal de estimação como companheiro de aventuras, quer seja por uma imposição dos pais, quer seja por limitações reais físicas do espaço de convivência.
Esse é o tema de A MENINA QUE INVENTOU O BRANCO-INVISÍVEL, livro que lancei há dois anos e que tem tido grande aceitação entre crianças, pais e educadores. Nele, após frustrantes experiências com peixinhos e um hamster, uma menina resolve ter um elefante como seu bichinho de estimação. Só podia dar confusão...
Veja a seguir, um trecho do livro – que tem ilustrações de Sérgio Ramos:
“Inconformada com o que via, a menina resolveu soltar o hamster, pra ele ter mais espaço pra correr e brincar. Mas, assim que se viu livre, o animalzinho correu pra detrás do sofá e nunca mais foi visto. Os pais da menina, quando souberam, brigaram com ela e reviraram todo o apartamento, procurando o hamster. No dia seguinte, uma vizinha comentou que tinha visto um rato branco no corredor. A mãe explicou que era um hamster, e não um rato. E a procura ia recomeçar – agora, no prédio todo – quando o porteiro disse que viu um gato num telhado vizinho com um rato branco na boca.
Depois disso, nunca mais peixinhos nem hamsters.
- Bicho em casa, só de pelúcia – decretou o pai.”
Para mais informações sobre o livro, visite o site da editora: www.paulinas.org.br
meus favoritos (livros, filmes, etc.)
- em breve, aqui
tira-gosto #3
Pra quem só conhece meus livros para crianças e minha poesia, segue abaixo uma pequena amostra da minha ficção para adultos:
"Comigo não, violão: o que faço, assumo; o que não, não. Que me arrancassem o couro, as unhas, os dentes – sempre estive certo disso, que me garantia: osso-duro. De criança, apanhei de taca, cinta, vara de goiabeira, chinela, palmatória, coque e cascudo, tapão na cara – conforme a gravidade da coisa feita, da ofensa, do prejuízo, pirraça – pai batia, mãe também. Aprendi a suportar calado, cabeça baixa, rabo-entre-as-pernas feito cachorrinho mijão. Curti o lombo, a couraça, estabeleci o meu até-onde, o limite-suportável. Chorar, nem não chorava mais. Cresci assim.
Mas a vela...
Daí, acordei sem vela, com o silêncio e a escuridão. Os pulsos soltos, de repente, os olhos, não havia mais a venda. Os pés, descalços ainda, no chão frio e molhado de sangue, cachaça, mijo, água do balde. Com custo, e desconfiado, consegui me levantar. Daí, tateei o derredor, as paredes sem reboco, frias, úmidas até passar a mão sobre o marco de uma porta. Fechada. Maçaneta. Chave. Giro. Fresta: fuga."
Fragmento do conto PELA ESTRADA DE TIJOLOS AMARELOS, que integra o livro do mesmo nome
Prêmio Estímulo às Artes/Literatura/2005 - Fundação Clóvis Salgado/Suplemento Literário de Minas Gerais
Publicado (não comercialmente) pela organização do concurso
Disponível para novos editores
"Comigo não, violão: o que faço, assumo; o que não, não. Que me arrancassem o couro, as unhas, os dentes – sempre estive certo disso, que me garantia: osso-duro. De criança, apanhei de taca, cinta, vara de goiabeira, chinela, palmatória, coque e cascudo, tapão na cara – conforme a gravidade da coisa feita, da ofensa, do prejuízo, pirraça – pai batia, mãe também. Aprendi a suportar calado, cabeça baixa, rabo-entre-as-pernas feito cachorrinho mijão. Curti o lombo, a couraça, estabeleci o meu até-onde, o limite-suportável. Chorar, nem não chorava mais. Cresci assim.
Mas a vela...
Daí, acordei sem vela, com o silêncio e a escuridão. Os pulsos soltos, de repente, os olhos, não havia mais a venda. Os pés, descalços ainda, no chão frio e molhado de sangue, cachaça, mijo, água do balde. Com custo, e desconfiado, consegui me levantar. Daí, tateei o derredor, as paredes sem reboco, frias, úmidas até passar a mão sobre o marco de uma porta. Fechada. Maçaneta. Chave. Giro. Fresta: fuga."
Fragmento do conto PELA ESTRADA DE TIJOLOS AMARELOS, que integra o livro do mesmo nome
Prêmio Estímulo às Artes/Literatura/2005 - Fundação Clóvis Salgado/Suplemento Literário de Minas Gerais
Publicado (não comercialmente) pela organização do concurso
Disponível para novos editores
tira-gosto #4
O preço das manhãs
Ainda me surpreendo
do alto da minha ciência de castigos
ainda perco o domínio dos instintos
o prumo
o rumo
os amigos.
Ainda ignoro
o negrume de certas intenções
o estrume
que aflora
em certos corações.
Pago à vista
chio
pago a prazo
bufo
mas pago
pela luz desprendida das manhãs.
O poema acima, de 1988, foi o meu primeiro prêmio literário. Com ele venci o concurso nacional Clip Poema Sol de Verão, promovido pela extinta TV Manchete. O prêmio me incentivou a desengavetar outros escritos e a assumir meu desejo de me tornar um escritor. A culpa, portanto, é dele.
Ainda me surpreendo
do alto da minha ciência de castigos
ainda perco o domínio dos instintos
o prumo
o rumo
os amigos.
Ainda ignoro
o negrume de certas intenções
o estrume
que aflora
em certos corações.
Pago à vista
chio
pago a prazo
bufo
mas pago
pela luz desprendida das manhãs.
O poema acima, de 1988, foi o meu primeiro prêmio literário. Com ele venci o concurso nacional Clip Poema Sol de Verão, promovido pela extinta TV Manchete. O prêmio me incentivou a desengavetar outros escritos e a assumir meu desejo de me tornar um escritor. A culpa, portanto, é dele.
tira-gosto #5
O sentimento morto
De tudo fica o encanto
e o não querer dissipá-lo
uma distância que nos pune
e o medo que nos abarca, esse halo
farpado que nos oprime.
Nada mais. Nem a cor, o perfume
(talvez ainda um calo, um coto).
Sobre o luar paira um manto
- um álibi encobre o crime
trevas, o sentimento morto.
De tudo fica o encanto.
Poema selecionado para o concurso Poema no Ônibus, de Porto Alegre (não me lembro o ano, mas foi na década de 90).
De tudo fica o encanto
e o não querer dissipá-lo
uma distância que nos pune
e o medo que nos abarca, esse halo
farpado que nos oprime.
Nada mais. Nem a cor, o perfume
(talvez ainda um calo, um coto).
Sobre o luar paira um manto
- um álibi encobre o crime
trevas, o sentimento morto.
De tudo fica o encanto.
Poema selecionado para o concurso Poema no Ônibus, de Porto Alegre (não me lembro o ano, mas foi na década de 90).
tira-gosto #6 (texto integral)
Projeto para um museu
Baú de ossos. Baú de ossos. Grande era a sua frustração, por não ter pensado naquilo antes. Tão simples...
Um baú guardado no porão. Cheio de ossos. Cadáveres. Os ossos do ofício, talvez.
Ofício? Mas que ofício? Nunca tivera, na vida, qualquer coisa que se assemelhasse a um ofício.
Sonhar é ofício?
CARTEIRA PROFISSIONAL: 42.172
SÉRIE: 355
PROFISSÃO: SONHADOR
Ossos. Um baú cheio, no porão.
(Apartamento não tem porão.)
Porra, mas é tudo uma metáfora! Não se pode querer escrever sem metáforas, afinal. Baú de ossos é mais ou menos como guardar esqueletos no armário. Significa que alguém não se desfaz do seu passado e que esse passado é incômodo como esqueletos em um armário. É tudo metáfora, apenas.
Um baú de ossos na sala. Por que não? As visitas teriam a sua curiosidade despertada, como de praxe: o que haveria dentro?
Ossos.
Não simples costelinhas de porco. Não simples fêmures de frango.
Mas ossos. Metáforas.
Não. As visitas não entenderiam.
Baú de ossos. Por que não pensara naquilo antes? Com um título desses, poderia ter escrito qualquer coisa. Um poema. Um ensaio. Um especial de tevê. O nome é forte, sugestivo, toca.
Certo, há os insensíveis. Mas os insensíveis são indiferentes. Um baú de ossos no canto da sala, tanto quanto na capa de um livro, não os comoveria.
Julgava-se sensível. O nome "Baú de Ossos" o perturbara, logo ao primeiro contato. Como da primeira vez que vira um Van Gogh. Ou um Pollock.
Contaminara-se.
Desfilava pela noite como uma prostituta à espera de um programa. Procurava um pouco de sentido para a vida. Como a outra procura um macho. Se viesse, bem. Se não, iria faltar o leite das crianças.
Nunca lera "Baú de Ossos". Bastara-lhe o nome. Havia poesia - e poesia alimenta - e alguma transcendentalidade nas palavras. Algo mais, além da sua interpretação literal, do seu valor absoluto.
Um baú de ossos o perseguia pela noite errante e fria. Um conhaque cairia bem, pois o frio já se fazia sentir nos ossos. Os ossos. Claro, os ossos. Um baú cheio, no canto da sala.
Certamente, não é assim que nasce um escritor: Tem-se a idéia para um título e escreve-se algo em torno dele. Ou, a partir de. Não, não deve ser assim. Talvez não houvesse fórmulas - pensava.
À noite, a cidade expõe suas fraturas. Seus meninos cheirando cola de sapateiro entre caixas de papelão desfeitas. Casais embriagados de paixão trepando entre os carros estacionados ao lado do viaduto. Assaltantes sob as sombras, sobrevoando suas vítimas. Bichas acenando nas esquinas. Empregadinhas prostituindo-se nos bailes populares de sábado, engordando seus salários. Todos personagens da crônica noturna urbana. Fraturas expostas da cidade. Da noite. Ossos.
Tantos ossos não caberiam em um baú. Ou caberiam. Afinal, tudo é apenas mais uma metáfora.
Mas o baú com os ossos da cidade deveria ficar exposto em local aberto à visitação pública, um museu talvez. Não num canto da sala. Assim, todos aprenderiam um pouco mais de antropologia social, quem sabe?
A madrugada era a vizinha mais próxima daquela noite gelada pedindo conhaque. O termômetro andava pelos treze.
Ele andava pelas avenidas vazias e ruas tortas carregando seu esqueleto. Mais que o esqueleto, carregava seus próprios ossos. Sua angústia. Sua desesperança. Sua falta de perspectivas. O temor das prostitutas - orgasmos a preço de banana. Dessas amadurecidas no carbureto, artificialmente. Carregava os pecados do mundo. A impotência. E uma única determinação: estar em casa, antes que o 5001 engatasse a segunda na entrada do viaduto, como sempre fazia, mesmo nas madrugadas mais silenciosas e tranquilas.
Baú de ossos. Enquanto girava a chave na fechadura, sentiu um arrepio percorrer-lhe os ossos e a certeza súbita do conhecimento dos mistérios da vida. Faltava-lhe conhecer os mistérios da morte. Talvez, um dia, pudesse reunir tudo em um baú.
Talvez devesse ir ter com Pedro Nava.
Talvez devesse ir logo. Ainda naquela noite, que era fria de gelar os ossos.
Os ossos.
De manhã, os médicos nada puderam fazer.
O conto acima conquistou o 1º lugar no Concurso Paulo Leminski de Contos (PR), em 1993. Foi minha primeira incursão pela ficção para adultos e meu primeiro prêmio no gênero.
(Devido às limitações de formatação do blog, substitui os parágrafos por espaços duplos. Considerem isso - que, para mim, é muito importante no aspecto gráfico do que escrevo - e dêem um desconto.)
Baú de ossos. Baú de ossos. Grande era a sua frustração, por não ter pensado naquilo antes. Tão simples...
Um baú guardado no porão. Cheio de ossos. Cadáveres. Os ossos do ofício, talvez.
Ofício? Mas que ofício? Nunca tivera, na vida, qualquer coisa que se assemelhasse a um ofício.
Sonhar é ofício?
CARTEIRA PROFISSIONAL: 42.172
SÉRIE: 355
PROFISSÃO: SONHADOR
Ossos. Um baú cheio, no porão.
(Apartamento não tem porão.)
Porra, mas é tudo uma metáfora! Não se pode querer escrever sem metáforas, afinal. Baú de ossos é mais ou menos como guardar esqueletos no armário. Significa que alguém não se desfaz do seu passado e que esse passado é incômodo como esqueletos em um armário. É tudo metáfora, apenas.
Um baú de ossos na sala. Por que não? As visitas teriam a sua curiosidade despertada, como de praxe: o que haveria dentro?
Ossos.
Não simples costelinhas de porco. Não simples fêmures de frango.
Mas ossos. Metáforas.
Não. As visitas não entenderiam.
Baú de ossos. Por que não pensara naquilo antes? Com um título desses, poderia ter escrito qualquer coisa. Um poema. Um ensaio. Um especial de tevê. O nome é forte, sugestivo, toca.
Certo, há os insensíveis. Mas os insensíveis são indiferentes. Um baú de ossos no canto da sala, tanto quanto na capa de um livro, não os comoveria.
Julgava-se sensível. O nome "Baú de Ossos" o perturbara, logo ao primeiro contato. Como da primeira vez que vira um Van Gogh. Ou um Pollock.
Contaminara-se.
Desfilava pela noite como uma prostituta à espera de um programa. Procurava um pouco de sentido para a vida. Como a outra procura um macho. Se viesse, bem. Se não, iria faltar o leite das crianças.
Nunca lera "Baú de Ossos". Bastara-lhe o nome. Havia poesia - e poesia alimenta - e alguma transcendentalidade nas palavras. Algo mais, além da sua interpretação literal, do seu valor absoluto.
Um baú de ossos o perseguia pela noite errante e fria. Um conhaque cairia bem, pois o frio já se fazia sentir nos ossos. Os ossos. Claro, os ossos. Um baú cheio, no canto da sala.
Certamente, não é assim que nasce um escritor: Tem-se a idéia para um título e escreve-se algo em torno dele. Ou, a partir de. Não, não deve ser assim. Talvez não houvesse fórmulas - pensava.
À noite, a cidade expõe suas fraturas. Seus meninos cheirando cola de sapateiro entre caixas de papelão desfeitas. Casais embriagados de paixão trepando entre os carros estacionados ao lado do viaduto. Assaltantes sob as sombras, sobrevoando suas vítimas. Bichas acenando nas esquinas. Empregadinhas prostituindo-se nos bailes populares de sábado, engordando seus salários. Todos personagens da crônica noturna urbana. Fraturas expostas da cidade. Da noite. Ossos.
Tantos ossos não caberiam em um baú. Ou caberiam. Afinal, tudo é apenas mais uma metáfora.
Mas o baú com os ossos da cidade deveria ficar exposto em local aberto à visitação pública, um museu talvez. Não num canto da sala. Assim, todos aprenderiam um pouco mais de antropologia social, quem sabe?
A madrugada era a vizinha mais próxima daquela noite gelada pedindo conhaque. O termômetro andava pelos treze.
Ele andava pelas avenidas vazias e ruas tortas carregando seu esqueleto. Mais que o esqueleto, carregava seus próprios ossos. Sua angústia. Sua desesperança. Sua falta de perspectivas. O temor das prostitutas - orgasmos a preço de banana. Dessas amadurecidas no carbureto, artificialmente. Carregava os pecados do mundo. A impotência. E uma única determinação: estar em casa, antes que o 5001 engatasse a segunda na entrada do viaduto, como sempre fazia, mesmo nas madrugadas mais silenciosas e tranquilas.
Baú de ossos. Enquanto girava a chave na fechadura, sentiu um arrepio percorrer-lhe os ossos e a certeza súbita do conhecimento dos mistérios da vida. Faltava-lhe conhecer os mistérios da morte. Talvez, um dia, pudesse reunir tudo em um baú.
Talvez devesse ir ter com Pedro Nava.
Talvez devesse ir logo. Ainda naquela noite, que era fria de gelar os ossos.
Os ossos.
De manhã, os médicos nada puderam fazer.
O conto acima conquistou o 1º lugar no Concurso Paulo Leminski de Contos (PR), em 1993. Foi minha primeira incursão pela ficção para adultos e meu primeiro prêmio no gênero.
(Devido às limitações de formatação do blog, substitui os parágrafos por espaços duplos. Considerem isso - que, para mim, é muito importante no aspecto gráfico do que escrevo - e dêem um desconto.)
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